7/25/2006

Um escandalo, os socialistas e a esquerda é uma fingida direita.



Manuel Alegre, vice-presidente da Assembleia da República, era até há pouco tempo coordenador de programas de texto da RDP (Rádio Difusão Portuguesa), cargo do qual se reformou, com 3219,95 euros mensais, segundo a lista dos aposentados e reformados divulgada pela Caixa Geral de Aposentações (CGA).

Político e escritor, Alegre tinha bem escondida dos portugueses e dos amigos a profissão de funcionário da RDP. E nem ele mesmo se lembrava, tanto que, conforme o garantiu ao CM, “se não fossem eles [CGA] a escrever” uma carta a informá-lo da reforma, o vice-presidente da Assembleia da República “nem teria dado por isso”. Admitindo ter ingressado nos quadros da RDP pouco depois de “regressar a Portugal”, vindo do exílio em Argel, Manuel Alegre confessa que esteve “pouco tempo” nas funções de director dos Serviços Criativo e Culturais da RDP (Jaime Gama era o director dos Serviços Informativos).Isto porque nas primeiras eleições democráticas, para a Assembleia Constituinte, realizadas no dia 25 de Abril de 1975, foi “eleito deputado”, tendo desde então sido sucessivamente reeleito, razão pela qual nunca mais voltou a trabalhar na rádio. Mas, acrescenta, “se por alguma razão não fosse eleito deputado, teria regressado para RDP”.Manuel Alegre é junto com Jaime Gama, Miranda Calha (ambos também do PS) e Mota Amaral (PSD) um dos quatro únicos políticos portugueses que sempre foi eleito deputado à Assembleia da República.Ana Sara de Brito, socialista responsável pela logística da campanha de Alegre à Presidência da República, mostrou-se estupefacta, referindo que “talvez Mário Soares soubesse” desta actividade. “Não me passava pela cabeça que ele fosse funcionário da rádio”, reafirmou ao CM, considerando que Alegre “devia era doar a reforma ao MIC”, Movimento de Intervenção Cívica, criado na sequência da votação obtida (mais de um milhão votos) por Alegre nas eleições presidenciais.Também Maria de Belém, colega de bancada e amiga de Alegre, desconhecia a profissão de radialista. “Eu não sabia mas ele também não tem de conhecer toda a minha vida”, frisou ao CM, lembrando-o nos seus tempos de juventude, com “os seus poemas e canções”, e o seu exílio em Argel. “Aí ele tinha um programa na rádio”, sublinhou, recordando ainda que Alegre tutelou a Comunicação Social. Foi no I Governo Constitucional, entre Julho de 1976 e Dezembro de 1977, que Manuel Alegre assumiu a Secretaria de Estado da Comunicação Social – quando foi encerrado o jornal ‘O Século’ – cargo que acumulou com o de secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro [Mário Soares] para os Assuntos Políticos. PERFIL“Herdei de minha mãe uma certa energia, o gosto da intervenção. De meu pai o desprendimento, uma irresistível e por vezes perigosa tendência para o desinteresse. Inclusivamente pelos bens materiais.” Manuel Alegre de Melo Duarte nasceu no dia 12 de Maio de 1936 em Águeda, distrito de Aveiro, no seio de uma família da média burguesia de origem aristocrata. Estudou no Liceu Alexandre Herculano, no Porto, e frequentou o curso de Direito da Universidade de Coimbra. Não se formou. A luta académica, o fado, a boémia e o teatro meteram-se de permeio. Fundou o Centro de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra e o Teatro de Estudantes da Universidade de Coimbra. Em 1961 é chamado para o serviço militar nos Açores e em Angola. Em 1963 é preso pela PIDE, em Luanda. Com residência fixa em Coimbra, passa à clandestinidade exilando-se em 1964, em Argel. Durante dez anos faz-se ouvir aos microfones da emissora A Voz da Liberdade. Regressa a Portugal a 2 de Maio de 1974. Dirigente do PS desde então, é eleito deputado nas sucessivas legislativas. Em 95 é nomeado vice-presidente da Assembleia da República. Gosta de caça e pesca. É membro do Conselho de Estado."OPTEI PELO ORDENADO E UM TERÇO DA REFORMA" (Manuel Alegre, vice-presidente da Assembleia da República)Correio da Manhã – É verdade que vai receber 3 219,95 euros de reforma da rádio?Manuel Alegre – Vou receber um terço. Como deputado não posso acumular o vencimento com a reforma. Optei pelo ordenado e um terço da reforma.– Quanto tempo tem de RDP?– Fui colocado quando regressei no 25 de Abril. Em 75 fui eleito deputado e tenho sido sempre reeleito. Nunca mais lá trabalhei, mas descontei sempre.– O cargo não consta na sua biografia do Parlamento.– É uma lacuna, mas não da minha responsabilidade. Também é verdade que eu já não me lembrava. Eles [Caixa Geral de Aposentações] é que me escreveram uma carta por ter feito 70 anos. Eu não pedi nada.– Não parece mal uma reforma por tão pouco tempo?– Só posso sublinhar que é legal Se não me enviassem a carta nem dava por isso. O Presidente da República também não recebe duas ou três reformas do Estado, além do vencimento? Mas eu nem questiono isso, que ele é uma pessoa séria.
Sofia Rêgo / Rui Arala Chaves

2 Comments:

At 25/7/06 23:30, Anonymous Anónimo said...

uma vergonha...

 
At 26/7/06 09:35, Anonymous Anónimo said...

o mal não é de Alegre ou Cavaco, o mal é de um sistema que permite que alguém receba reforma enquanto ainda é activo, ou ainda permite acumular diferentes reformas, isto claro para cargos publicos, porque para cargos privados, uma carreira contributiva é uma carreira contributiva e mais nada...

 

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