3/13/2006


Intolerância e Democracia

POR JORGE COSTA O actual desatino com o caso dos cartoons dinamarqueses, com que eu nem simpatizo particularmente, demonstra duas coisas. Por um lado as lideranças carcomidas dos países islâmicos manipulam as massas para que elas contestem violentamente o acessório e assim distraem-nas do estado de miséria e atraso em que estão mergulhadas, vítimas dessas mesmas lideranças corruptas e que em grande parte são títeres dos grandes interesses capitalistas internacionais. Por outro, pelo modo tergiversante como algumas lideranças das apelidadas democracias ocidentais, a nível da Europa e do mundo, se pronunciam sobre o caso demonstra que há muito os princípios se perderam no caldeirão dos interesses imediatos, como alguém diria foram vendidos por um prato de lentilhas. Valores básicos da democracia ocidental, a laicidade do estado e a liberdade de expressão que em caso de dúvida deverá ser regulada pelos tribunais, deveriam conhecer outro tipo de defesa. Ainda que não se aceite, compreende-se que a Grâ-Bretanha e os Estados Unidos pelo que têm empatado no assunto e com algum peso de consciência, se a tiverem o que se duvida, se mantenham mudos e quedos sobre a actual problemática. Já me parece mais estranho que, sem qualquer estado de necessidade, o ministro dos Negócios Estrangeiros (MEN) português venha dizer que discorda da publicação dos tão falados cartoons, até fala em licenciosidade, é quase erótico, evoca o nome de Portugal em vão. Desconhece-se se falava dos publicados em Setembro na Dinamarca se os reeditados agora na imprensa portuguesa, demonstra pretensões a influenciar ou a linha editorial europeia ou a nacional. Os representantes portugueses há décadas para cá, vêm demonstrando um espírito de subserviência que se assinala, mas se lamenta. Éramos os melhores alunos da CEE, agora verberamos que em plena liberdade editorial alguém publique aquilo que lhe dá na gana. Os tribunais servem exactamente para dirimir conflitos de interesses. É engraçado que o nosso MNE no comunicado que emitiu verbere os cartoons e nem um palavra sobre a onda de violência que percorre os países árabes com ofensas diárias à soberania dos países cujos consulados e embaixadas são destruídas e bandeiras queimadas e espezinhadas. É a barbárie na sua expressão máxima! Se os países árabes e os seus habitantes estão satisfeitos com o seu modo de vida que o conservem, nós também não estamos completamente descontentes com o nosso, só defendemos alguns aperfeiçoamentos. Agora ninguém lhes poderá reconhecer o direito de terem pretensões a serem eles a virem-nos indicar como nos devemos comportar nos nossos países de naturalidade, nem tentar condicionar-nos às suas opções. Há muito que ultrapassamos a intolerância da Inquisição, as luzes iluminaram-nos, e o espírito das cruzadas está reservado para os Estados Unidos e seus aliados. Não estaremos ainda perante a guerra de civilizações que muitos pretenderiam, mas é cada vez mais claro que existe um forte choque cultural cujo desenvolvimento se desconhece. Não serão as cedências sem princípios que evitará seja o que for que se avizinha.
Terça, 07 de Fevereiro de 2006 - 19:43
Fonte: NA - Jornalista :


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