4/15/2007


Livro do Papa contraria visões politizadas e especulativas sobre a figura de Cristo 15.04.2007 - 12h52 António Marujo

É um livro que pretende traduzir apenas uma “busca pessoal” e não quer afirmar-se como um “acto relevante” do magistério do Papa. Jesus de Nazaré, da autoria de Joseph Ratzinger ou Bento XVI, será posto à venda em Itália, Alemanha e Polónia amanhã, dia em que o Papa faz 80 anos. Em Maio estará nas livrarias portuguesas.
O livro já se anuncia como tentativa de contrariar perspectivas políticas da figura de Jesus ou especulações sem fundamento histórico como as veiculadas por ficções como O Código Da Vinci. Mas a obra pode ser discutida e contestada. “Qualquer pessoa é livre de me contradizer”, escreveu o Papa, citado pela Reuters. Com este texto, começado a escrever em 2003, dois anos antes de ser eleito Papa, Ratzinger denuncia os “maus livros, destruidores da figura de Jesus e da fé, cheios de resultados presumidos de exegese”. A citação, transcrita pela AFP, pode ser lida como alusão ao Código, que foi criticado por várias figuras destacadas da Igreja. “Tentei apresentar o Jesus dos evangelhos como o verdadeiro Jesus, como o Jesus histórico no verdadeiro sentido”, escreve o Papa, que já antes de ser eleito, faz quinta-feira dois anos, era um dos mais importantes teólogos católicos. A reafirmação de que esta é uma obra do pensador e não do líder da Igreja Católica é feita numa sinopse do livro, citada pela Zenit, uma agência oficiosa do Vaticano. Jesus de Nazaré “reflecte a busca pessoal do ‘rosto do Senhor’ por parte de Ratzinger e não pretende ser um documento do magistério”, diz o texto. Ou seja, não tem o carácter oficial e hierárquico de textos como as encíclicas ou as exortações.Com um livro pleno de citações da Bíblia e de autores tão diferentes como Karl Marx, Madre Teresa, Sócrates, Confúcio, Dante ou Nietzsche, Ratzinger alerta: “A interpretação da Bíblia pode tornar-se um instrumento do Anticristo”. O Papa insiste na ideia do “primado de Deus” e critica os que pretendem que a Igreja “se preocupe antes de mais com o pão a dar ao mundo”. Quando Deus é considerado “secundário” em relação a outras coisas pretensamente mais importantes, estas “fracassam”. “A experiência negativa do marxismo não é a única a demonstrá-lo”, acrescenta. Estas referências têm outros alvos: de um lado, os biblistas que acentuam o estudo histórico da figura de Jesus. Nesta perspectiva, o Papa enaltece o método histórico-crítico como “indispensável para uma exegese séria” e que colocou à disposição uma grande quantidade de material e conhecimentos que permitem reconstruir a figura de Jesus”. Apesar disso, Ratzinger diz que “só a fé pode fazer compreender que Jesus é Deus”. O outro alvo é a teologia da libertação, que defendia, a partir da análise da realidade, uma maior intervenção social da Igreja. “Sim, realmente aconteceu. Jesus não é um mito. É um homem feito de carne e sangue, uma presença totalmente real na história. Ele morreu e ressuscitou de entre os mortos”, escreve Ratzinger. O livro cita ainda problemas do mundo contemporâneo como o drama das populações de África, “roubadas e pilhadas” pelo “estilo de vida” ocidental. A obra será publicada em 20 línguas. Ratzinger planeia um segundo volume consagrado às narrativas da infância de Jesus. No primeiro, analisa a vida pública de Cristo, desde o baptismo no Jordão até ao episódio da Transfiguração.
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