11/07/2006


A China ou o incómodo recém-chegado II
Ou seja: a multiplicidade de proprietários do capital e de interesses envolvidos na gestão das organizações, bem como a rede de actividades exercidas pela organização, colocam com agudeza a questão simples: afinal, quem somos?
Novos actores globais
Note-se que os termos empresa multinacional e empresa transnacional são por vezes considerados sinónimos, Mas podem também designar distintas estratégias de comportamento no mercado global: neste sentido, a empresa multinacional assume uma diferenciação por exemplo em matéria de marketing, dentro de determinados limites, das estratégias praticadas pelos gestores em cada espaço nacional; a empresa transnacional, em sentido mais restrito, já pelo contrário, subordina esses gestores a uma direcção estratégica única.

A primeira fase da política chinesa da «Porta Aberta» visava alguma forma de adaptação explícita da ETN (empresa transnacional) ao contexto chinês. E é claro que conforme os casos, deliberadamente ou não, as chamadas culturas empresariais também são diversas consoante por exemplo se trata de empresas oriundas dos EUA, do Japão ou da Alemanha. Mas a tendência hoje dominante, até por força de factores que estão na base da chamada transição para a economia do conhecimento, reside no que poderia designar-se por desnacionalização da grande corporação projectada no mercado global.

Expliquemos o sentido que aqui damos ao termo.

A ETN, apesar de ser designada por «transnacional», podia conservar algum coeficiente «nacional» por todas ou algumas das razões seguintes: ao nível das «culturas empresariais», isto é, valores explícitos ou implícitos assumidos pela organização e comportamentos típicos dos gestores, consoante as suas origens nacionais (americanos, japoneses ou franceses, por exemplo); conivência ou cumplicidade entre ETN e potências mundiais a nível geoestratégico; localização geográfica predominante em áreas histórica ou culturalmente afins da nação onde se localiza a sede (por exemplo, empresas portuguesas investindo na África de expressão portuguesa, etc.); predomínio de determinada nacionalidade nos detentores do capital da sociedade, podendo imprimir-lhe, por esse facto, certo enviesamento ou bias comportamental com fundamento numa nacionalidade.

Ora, a tendência que hoje predomina vai no sentido de a corporação ser «transnacional» num sentido mais radical. É uma corporação sem raízes geográficas ou culturais precisas, podendo assim – na linha da citada afirmação de Drucker – compor a sua própria imagem e identidade conforme a estratégia de marketing (não só económico em sentido restrito, mas também cultural e político) que for considerada mais adequada no juízo da direcção. E não se trata do «oportunismo» do camaleão que muda de cor em função em ambiente, mas algo de bem mais complexo.

Com a crescente presença das ETN no sector dos serviços e, em particular dos serviços «baseados em conhecimento», como I&DE na saúde e educação, há também uma tendência para a «desmaterialização» da ETN e a já não simples ligação biunívoca entre empresa e produto.

E há que registar a entrada em cena de outros actores, como por exemplo o emergente «sindicato transnacional» que a globalização também provoca. Dada, por outro lado, a força da dimensão estritamente financeira da globalização em curso, este facto traz consigo novos e relevantes actores ao mercado global.

É o caso dos poderosos fundos de pensões norte-americanos cujo comportamento no mercado de capitais tem influência no comportamento das ETN que, duma forma ou outra, são condicionadas pelas tendências do mercado de capitais, também radicalmente globalizado.

Perante este panorama, pressente-se que a «economia do séc. XXI» em que desprevenidamente entrámos tem muitas surpresas para nos oferecer. E não só provenientes da China. Esperemos que algumas sejam boas…até para os «menos desenvolvidos» do planeta, como se sabe, sobretudo situados em África.
A primeira publicação esta no intervisão www.intervisao.blogspot.com


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