11/17/2005

Mais uma Cimeira Ibérica…

POR CARLOS LUNA
Vai decorrer, em Évora, nos dias 18 e 19 de Novembro de 2005, mais uma Cimeira entre Portugal e Espanha. Dado o bom relacionamento entre os dois países, não se prevêem grandes debates ou decisões inesperadas. As duas diplomacias, num clima de grande abertura, terão feito tudo para que os documentos a discutir em Évora mais não necessitem do que meia dúzia de ajustes simbólicos e de algumas assinaturas para se tornarem "efectivos" e se poder por em prática o que neles se estipula. É comovente, e é bonito. Na verdade, é em clima de amizade que os problemas devem ser resolvidos...sabendo-se como outros caminhos, já dolorosamente percorridos ao longo dos séculos nos inúmeros e sangrentos conflitos entre os dois maiores Estados Ibéricos, nada produziram de bom para os respectivos povos. Só se deseja é que a Diplomacia Portuguesa seja merecedora da confiança que nela se deposita, e que não dê a imagem, que muitas vezes surge perante a opinião pública, de a tudo o que Madrid pede acabar por ceder. Não é assim que se constroem amizades sólidas e duradouras, pois acabam por surgir os mais inconvenientes ressentimentos. Não se pode esquecer que Évora fica a cerca de 70 quilómetros, em linha recta, da cidade de Olivença. O problema da posse deste território vê a sua discussão, e portanto a sua resolução, adiada de cimeira para cimeira. Desde há duzentos anos. Quase desde que foi cedida, em 1801. Desde que foi devolvida a Portugal...por tratado assinado pela Espanha e por todas as Potências europeias em 1815, em Viena de Áustria. Dado o actual clima de amizade e confiança, não se vê muito bem por que razão não se pode encarar este litígio de frente, sem os costumados subterfúgios. É infelizmente inevitável fazer comparações com as atitudes de Madrid perante um caso semelhante. Na verdade, a Espanha não hesita, quando tem lugar qualquer evento, pequeno ou grande, em que se encontrem representantes seus e da Grã-Bretanha, em recordar o problema de Gibraltar. Fá-lo sempre, aproveitando a amizade reinante com Londres. Tem vindo sempre a fazê-lo, independentemente dos regimes, desde o século XVIII, porque considera estar a bater-se por algo justo. E nem se esquece de argumentar que as questões de justiça devem ser vistas pelas suas razões históricas, políticas, e diplomáticas. Não aceita razões económicas (como as de que em Gibraltar se vive melhor do que em Espanha, e de que as leis de Gibraltar vão mais ao encontro da Globalização), nem políticas (como a existência de um Tratado de 1713/14 em que o Rochedo era cedido a Londres, ou como as leis vigentes no mesmo permitem uma Democracia mais "avançada" do que a praticada em Espanha), nem outras (por exemplo, considera que a população local, ao exprimir sérias dúvidas em relação a uma eventual soberania espanhola, está a ser vítima de manipulações e de visões distorcidas da História...) Madrid propõe-se apenas minimizar eventuais impactos negativos nas populações de um regresso de Gibraltar a Espanha, mas lá vai defendendo que "a soberania não é negociável" e que se possam decidir "pertenças nacionais com base em meros interesses económicos". Talvez a proximidade de Évora em relação a Olivença inspire alguns participantes da Cimeira a referir a questão que rodeia a posse da cidade transodiânica. Talvez, se referirem as águas do Alqueva, se lembrem de que, por causa da problemática de Olivença, foi possível a Portugal dispor do vale do Guadiana e do lago artificial criado com bastante liberdade, evitando muitas complicações diplomáticas. Talvez, no meio de atitudes hipócritas, alguém destoe, e recorde que é com os amigos mais chegados que se discutem todos os problemas, sem complexos e sem mentiras.


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